Como interpretar uma Certidão de Matrícula de Imóvel

Como interpretar uma Certidão de Matrícula de Imóvel
Foto: Freepik

Você já ouviu falar da certidão de matrícula de imóvel, mas, quando pegou uma na mão, sentiu como se estivesse lendo um mapa do tesouro em outra língua? Não se preocupe – você não está sozinho! Esse documento, que é como o RG de uma casa, apartamento ou terreno, pode parecer cheio de termos complicados, mas, com um pouco de orientação, você vai conseguir entendê-lo como um verdadeiro detetive imobiliário. A certidão de matrícula é essencial para quem vai comprar, vender ou até alugar um imóvel, porque ela conta a história jurídica da propriedade e te ajuda a evitar surpresas desagradáveis, como dívidas ou donos “fantasmas”.

Neste guia prático, vamos te ensinar, passo a passo, como interpretar uma certidão de matrícula de imóvel, o que procurar e como usar essas informações para tomar decisões seguras. Vamos fazer isso juntos, como se estivéssemos desvendando um mistério – e, no final, você vai se sentir muito mais confiante. Preparado? Então vamos lá!

O que é a certidão de matrícula de imóvel?

Antes de começarmos a “ler” a certidão, vale a pena entender o que ela é. A certidão de matrícula é um documento emitido pelo Cartório de Registro de Imóveis (RGI) que funciona como a identidade do imóvel. Cada propriedade no Brasil tem uma matrícula única, que é como um número de CPF – ela registra tudo o que acontece com aquele imóvel ao longo do tempo, desde a primeira vez que ele foi registrado até o momento atual. Isso inclui quem é o dono, se há dívidas, hipotecas, penhoras ou qualquer outro detalhe jurídico importante.

No Brasil, a Lei 6.015/1973, conhecida como Lei de Registros Públicos, determina que tudo relacionado a um imóvel deve ser registrado na matrícula. Por isso, esse documento é tão crucial: ele te dá uma visão clara da situação do imóvel e te protege contra problemas que podem surgir na hora de comprar ou vender.

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Passo a passo: como interpretar a certidão de matrícula

Agora, vamos ao que interessa: como ler e entender esse documento. Vou te guiar por cada seção típica de uma certidão de matrícula, explicando o que significa e o que você deve procurar. Pegue uma certidão (ou imagine uma na sua frente) e siga comigo!

1 – Identificação do imóvel e da matrícula:

No topo da certidão, você vai encontrar informações básicas que identificam o imóvel e a matrícula. Isso inclui:

  • Número da matrícula: É o “CPF” do imóvel, um número único que o identifica no cartório. Por exemplo: “Matrícula nº 12345, Cartório de Registro de Imóveis da 1ª Zona de São Paulo”. Anote esse número – ele é a chave para qualquer consulta futura.
  • Descrição do imóvel: Aqui, a certidão detalha o que é o imóvel: pode ser um terreno, uma casa ou um apartamento. Você vai ver informações como o endereço (rua, número, bairro), a área total (em metros quadrados) e, se for um apartamento, o número da unidade e a fração ideal do terreno. Por exemplo: “Apartamento nº 101, com área privativa de 80 m², localizado na Rua das Flores, nº 100, Bairro Centro”.
  • O que procurar: Confirme se o imóvel descrito é realmente o que você está negociando. Já vi casos em que o endereço ou a área estavam errados, o que pode indicar um erro no cartório ou até uma tentativa de fraude. Se algo não bater, peça esclarecimentos ao vendedor e ao cartório.

2 – Nome do proprietário atual:

Logo abaixo da descrição, a certidão vai mostrar quem é o dono atual do imóvel. Isso aparece em um registro chamado “R” (de registro), que é numerado – por exemplo, “R.1” ou “R.5”. Cada “R” representa uma alteração na matrícula, como uma nova transferência de propriedade.

  • Exemplo: “R.3 – Proprietário: João da Silva, CPF 123.456.789-00, casado com Maria da Silva, CPF 987.654.321-00, sob o regime de comunhão parcial de bens, conforme escritura pública de compra e venda lavrada em 15/03/2020.”
  • O que procurarVerifique se o nome do proprietário é o mesmo da pessoa que está te vendendo o imóvel. Se for diferente, pode ser que o vendedor não seja o dono de fato – talvez ele tenha vendido o imóvel e não atualizou o registro, ou pior, pode ser uma fraude.
    Cheque o estado civil do proprietário. Se ele for casado, a venda pode exigir a outorga conjugal (o consentimento do cônjuge), como manda o Art. 1647 do Código Civil. Sem isso, a venda pode ser anulada em até dois anos.

3 – Histórico de transferências (os “R” anteriores):

A certidão de matrícula é como um diário do imóvel: ela registra todas as transferências de propriedade desde que o imóvel foi registrado pela primeira vez. Essas transferências aparecem como “R.1”, “R.2”, “R.3” e assim por diante.

  • Exemplo: “R.1 – Proprietário: Construtora XYZ Ltda., CNPJ 12.345.678/0001-90, registrado em 10/01/2010. R.2 – Proprietário: Ana Oliveira, CPF 456.789.123-00, por doação, registrado em 20/05/2015.”

O que procurar: Veja se as transferências fazem sentido. Por exemplo, se o imóvel passou por muitas mãos em pouco tempo, pode ser um sinal de problema, como especulação ou tentativas de “esconder” dívidas.
Confirme se todas as transferências foram feitas por meios legais, como compra e venda, doação ou herança (formal de partilha). Se houver algo estranho, como um registro cancelado, investigue mais.

4 – Averbações (os “AV”): mudanças e detalhes importantes:

Além dos registros de transferência (os “R”), a certidão também tem as averbações, marcadas como “AV” (de averbação). Elas mostram mudanças que não envolvem troca de dono, mas que afetam o imóvel.

  • Exemplo: “AV.1 – Averbação de construção de uma casa de 120 m², conforme alvará municipal nº 567/2018, em 15/09/2018. AV.2 – Alteração do nome da rua de ‘Rua das Acácias’ para ‘Rua das Orquídeas’, conforme decreto municipal nº 123/2020.”

O que procurar:

  • Veja se há averbações importantes, como construções ou demolições. Se o vendedor te disse que a casa tem 150 m², mas a averbação mostra só 100 m², pode haver uma construção irregular.
  • Cheque se o endereço está atualizado. Um endereço errado pode dificultar financiamentos ou até a venda do imóvel.
  • Procure por averbações de estado civil do proprietário (como casamento ou divórcio), porque isso pode afetar a necessidade de outorga conjugal.

5 – Ônus e gravames: os “alertas vermelhos”

Uma das partes mais importantes da certidão é a que mostra se o imóvel tem ônus ou gravames – ou seja, dívidas, restrições ou direitos de terceiros que podem te afetar. Isso também aparece nos registros ou averbações.

  • Exemplo: “R.4 – Hipoteca em favor do Banco ABC, no valor de R$ 200.000,00, registrada em 10/02/2021. AV.3 – Penhora decorrente de ação judicial nº 12345/2022, movida por José Santos, em 05/01/2023.”

O que procurar:

  • Hipoteca: Significa que o imóvel foi dado como garantia de um empréstimo. Se o vendedor não quitar a dívida, o banco pode tomar o imóvel – e você perde tudo.
  • Penhora: Indica que o imóvel foi bloqueado por uma dívida judicial. Você não pode comprá-lo até que a penhora seja levantada.
  • Usufruto: Mostra que alguém tem o direito de usar o imóvel, mesmo que você o compre. Por exemplo, a mãe do vendedor pode ter o usufruto vitalício, e você não poderá usar o imóvel enquanto ela estiver viva.
  • Alienação fiduciária: Comum em financiamentos, significa que o imóvel ainda está “preso” ao banco até o pagamento total. O vendedor precisa quitar o financiamento antes de vender.
  • Outros ônus: Pode haver servidões (como uma passagem para o vizinho), cláusulas de inalienabilidade (que proíbem a venda) ou até ações judiciais em andamento.

Se encontrar qualquer ônus, pare tudo e converse com o vendedor. Esses problemas precisam ser resolvidos antes de você fechar o negócio, ou você pode herdar uma dor de cabeça gigante.

6 – Data da certidão e validade

No final da certidão, você vai ver a data em que ela foi emitida e, às vezes, uma observação sobre a validade.

  • Exemplo: “Certidão emitida em 08/04/2025, válida por 30 dias.”

O que procurar: Certidões de matrícula geralmente valem por 30 dias, porque a situação do imóvel pode mudar (por exemplo, o vendedor pode criar uma nova hipoteca). Se a certidão estiver vencida, peça uma nova antes de fechar o negócio.

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Dicas práticas para usar a certidão de matrícula a seu favor

Agora que você já sabe o que procurar na certidão, quero te dar algumas dicas para usar esse documento de forma inteligente:

  • Compare com o que o vendedor te disse: O vendedor te falou que o imóvel não tem dívidas? Que ele é o único dono? Que a casa foi construída há 5 anos? Cheque tudo isso na certidão. Se algo não bater, peça explicações – e, se necessário, desista do negócio.
  • Peça ajuda a um profissional: Se algum termo ou situação parecer confuso, consulte um corretor de imóveis, um advogado ou até o próprio cartório. Eles podem te explicar o que significa e se é um problema.
  • Atualize a certidão antes de assinar o contrato: Como a certidão tem validade curta, peça uma nova bem perto da data de fechar o negócio. Isso garante que você está vendo a situação mais recente do imóvel.
  • Guarde uma cópia digital: Tire uma foto ou escaneie a certidão e guarde no seu celular ou computador. Assim, você tem o documento à mão para consultas futuras.
  • Cheque a matrícula no cartório, se possível: Às vezes, vendedores falsificam certidões para esconder problemas. Se puder, vá ao Cartório de Registro de Imóveis e peça para ver a matrícula original – ou confirme o número da matrícula com o cartório.

O que fazer se encontrar problemas na certidão?

Se você encontrar algo preocupante, como uma penhora ou uma hipoteca, não entre em pânico. Aqui está o que fazer:

  • Converse com o vendedor: Pergunte sobre o problema e peça para ele resolver. Por exemplo, se há uma hipoteca, ele precisa quitá-la e pedir a baixa no cartório antes de vender.
  • Consulte um advogado: Se o problema for mais sério, como uma ação judicial ou um usufruto, um advogado pode te orientar sobre os riscos e como proceder.
  • Pense duas vezes antes de prosseguir: Um imóvel com ônus graves pode trazer mais problemas do que vale. Às vezes, é melhor procurar outra opção do que arriscar.

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Um resumo para você não se perder

Vamos recapitular o que você precisa saber para interpretar uma certidão de matrícula de imóvel? Primeiro, cheque a identificação do imóvel e o número da matrícula – eles confirmam que você está olhando para o imóvel certo. Depois, veja quem é o proprietário atual e se o estado civil dele exige outorga conjugal. Analise o histórico de transferências para entender a “vida” do imóvel. Preste atenção nas averbações, que mostram mudanças como construções ou alterações de endereço. E, o mais importante, procure por ônus e gravames – hipotecas, penhoras ou usufrutos podem ser um grande problema. Por fim, confirme a data da certidão e peça uma nova se ela estiver vencida.

A certidão de matrícula é o seu melhor amigo na hora de comprar ou vender um imóvel. Ela te dá a segurança de saber exatamente o que você está adquirindo, sem surpresas escondidas. Então, da próxima vez que alguém te entregar uma certidão, você não vai mais se sentir perdido. Com esse guia na mão, você vai ler cada linha como um expert – e tomar decisões com muito mais confiança. Agora, que tal pegar aquela certidão e começar a praticar?

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