Home Equity no Brasil: Obstáculos e Oportunidades

Home Equity no Brasil: Obstáculos e Oportunidades
Foto: Fabio Zveibil (VP do ecossistema Auto da Creditas), Thiago Spessoto (Superintendente Executivo do BRADESCO), Julio Rossi (Head da Área de Crédito Imobiliário do Banco Daycoval) e Coriolano Lacerda (Gerente de Pesquisa e Inteligência de Mercado do Grupo OLX) (Crédito Divulgação Conecta Imobi)

O home equity, modalidade de crédito que utiliza o imóvel como garantia, tem ganhado relevância no Brasil, especialmente entre aqueles que buscam uma maneira estratégica de levantar capital. Embora essa forma de financiamento esteja em expansão, ela ainda enfrenta desafios que dificultam sua popularização no mercado brasileiro. Especialistas discutiram essas questões no Conecta Imobi 2024, o principal evento do setor na América Latina, destacando os entraves culturais e a concorrência com outras opções de crédito.

De acordo com Thiago Spessoto, superintendente de negócios do Bradesco, o receio do endividamento ainda impede muitos brasileiros de enxergarem o potencial de suas propriedades como fonte de recursos.

O brasileiro tem muito medo de ficar endividado”, afirma Spessoto. Esse medo acaba dificultando a compreensão do imóvel como uma ferramenta de investimento e não apenas um passivo.

Esse entrave cultural é um dos principais desafios para que o home equity se torne uma opção mais popular. Apesar de seu crescimento recente — ultrapassando R$ 2 bilhões em concessões nos primeiros meses de 2023, de acordo com dados da Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança) —, essa modalidade ainda é tímida comparada a outros tipos de crédito. O Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), por exemplo, concedeu mais de R$ 15 bilhões no mesmo período.

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O Desafio da Concorrência com Créditos Mais Ágeis

Uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo home equity é a concorrência com outras modalidades de crédito que oferecem maior rapidez, como o crédito consignado. Spessoto ressalta que o home equity, por conta de sua natureza jurídica, envolve um processo mais complexo, que pode levar dias ou até semanas para ser finalizado. Isso o coloca em desvantagem frente a créditos emergenciais que podem ser contratados de maneira muito mais ágil.

Outro ponto destacado foi a burocracia dos cartórios, que ainda impede a contratação rápida de crédito com garantia imobiliária. Mesmo com a digitalização de processos, muitas vezes o cliente ainda precisa ir presencialmente a um cartório, o que gera frustração e diminui a adesão à modalidade. Nesse cenário, é necessário um esforço maior do setor em tornar o processo menos burocrático e mais acessível ao consumidor comum.

Oportunidades para Corretores e Assessores

Apesar desses obstáculos, o home equity apresenta um “mar de oportunidades”, conforme afirma Julio Rossi, head da área de crédito imobiliário do Banco Daycoval. Ele acredita que corretores e assessores imobiliários têm um papel essencial na disseminação da modalidade. Isso porque muitos imóveis vendidos há 10, 15 ou 20 anos podem ser potencialmente usados como garantia para o home equity, proporcionando aos proprietários uma nova forma de levantar capital.

Os corretores, segundo Rossi, precisam estar atentos a essas oportunidades e educar seus clientes sobre as vantagens do produto. Muitas vezes, a resistência vem da falta de conhecimento. Diferente de um financiamento tradicional, o home equity não precisa ser visto como um processo complicado. Pelo contrário, ele pode se tornar uma solução estratégica para aqueles que precisam de liquidez, seja para investimentos, abertura de negócios ou outras necessidades financeiras.

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A Educação do Consumidor é Fundamental

Fábio Zveibil, VP de Crédito com Garantia de Auto e Home da Creditas, reforça a importância de educar o consumidor sobre como o home equity funciona. Em muitos casos, proprietários de imóveis optam por vender suas casas para levantar capital, mas acabam se endividando de forma desnecessária com outros produtos financeiros, como cartões de crédito.

Essa falta de compreensão do funcionamento do home equity pode levar o consumidor a tomar decisões financeiras equivocadas. “As pessoas quitam o financiamento imobiliário e acabam se endividando com o cartão de crédito, o que não faz sentido financeiramente”, explica Zveibil. Ele acredita que, se mais pessoas entendessem a modalidade, optariam por ela como uma alternativa mais segura e vantajosa para levantar capital.

Futuro do Home Equity no Brasil

Embora o cenário atual apresente desafios, especialistas acreditam que o home equity tem um grande potencial de crescimento no Brasil. Para isso, é necessário um esforço conjunto do setor para superar barreiras culturais e melhorar os processos envolvidos, tornando a modalidade mais acessível ao consumidor médio.

Além disso, a conscientização sobre as vantagens do home equity deve ser uma prioridade para corretores, bancos e outras instituições financeiras. Quando bem compreendido e utilizado, o home equity pode se tornar uma das principais alternativas para aqueles que buscam capital, especialmente em um mercado tão dinâmico quanto o imobiliário.

Em resumo, o home equity no Brasil está apenas começando sua jornada, mas o caminho para sua popularização está claro. Com mais educação, menos burocracia e uma visão mais estratégica, essa modalidade de crédito pode trazer benefícios significativos tanto para consumidores quanto para o setor imobiliário.

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