A recente decisão do Comitê de Política Monetária (COPOM) de aumentar a taxa Selic para 10,75% a.a. levanta questionamentos sobre os rumos do mercado imobiliário em 2024. Embora o cenário atual apresente desafios, é importante entender como diferentes segmentos do setor podem ser afetados e quais são as perspectivas para os próximos anos.
Fundos Imobiliários: Renda ou Papel?
A elevação da taxa de juros tem um efeito direto na valorização dos ativos reais, como imóveis e fundos imobiliários. No caso dos fundos de tijolo, que investem diretamente em imóveis, o aumento da Selic tende a prejudicar a valorização dos ativos. Isso ocorre porque a alta dos juros reduz a atratividade desses fundos em comparação a outras modalidades de investimento.
Por outro lado, os fundos imobiliários de papel, especialmente aqueles com exposição a Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) atrelados ao CDI, podem se beneficiar do aumento. Isso porque a elevação dos juros impacta diretamente a distribuição de rendimentos desses fundos, que ficam mais atrativos para investidores em busca de maiores retornos em renda fixa.
Essa dualidade no impacto dos juros reforça a necessidade de uma análise criteriosa na escolha dos fundos imobiliários. Enquanto o cenário de alta pode desvalorizar os fundos de tijolo, ele apresenta uma oportunidade para quem busca investir em fundos de papel que se beneficiam diretamente do aumento da taxa Selic.
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Crédito Imobiliário: O Efeito Duplo da Alta de Juros
O aumento da Selic também traz implicações significativas para o crédito imobiliário. Para os incorporadores, o custo de produção dos imóveis aumenta, o que pode levar a uma desaceleração nos lançamentos e, consequentemente, na oferta de novos empreendimentos. Por outro lado, os compradores enfrentam maiores dificuldades para obter financiamento, já que o custo do crédito se eleva, reduzindo a capacidade de pagamento e a alavancagem.
Essa combinação de fatores pode resultar em um cenário de retração no mercado imobiliário, dificultando tanto a construção quanto a venda de novos imóveis. Além disso, após um período de dois anos com saques líquidos na poupança acima de R$ 150 bilhões, o setor imobiliário se vê cada vez mais dependente do mercado de capitais como fonte de financiamento.
Os CRIs, que representam uma importante fonte de funding para o setor, continuam ganhando espaço no financiamento de novos projetos. Apesar do aumento da Selic, a participação dos CRIs no mercado de capitais segue crescendo, oferecendo uma alternativa viável para incorporadores que buscam recursos a taxas competitivas.
Perspectivas para 2025: Recuperação à Vista?
Apesar dos desafios impostos pela alta da Selic, as perspectivas para o mercado imobiliário em 2025 podem ser mais otimistas, caso o ciclo de elevação dos juros seja curto, como esperado por alguns analistas. Segundo Tomaz de Gouvêa, gestor de investimentos imobiliários da MAG Investimentos, se o ciclo de alta dos juros se encerrar rapidamente, há uma expectativa de que os bons indicadores do ciclo imobiliário atual possam limitar os impactos negativos e promover uma recuperação a partir de 2025.
Com uma possível queda nos juros, um ambiente de inflação controlada e melhores expectativas fiscais, o setor imobiliário pode voltar a se beneficiar, retomando o crescimento e atraindo novamente investidores e compradores. Esse cenário otimista depende, contudo, de fatores macroeconômicos e da condução das políticas monetárias e fiscais no país.
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Como os Investidores Podem se Preparar?
Diante desse cenário, a diversificação de portfólio se mostra essencial para investidores que desejam se proteger dos impactos da alta da Selic. A escolha entre fundos de tijolo e de papel deve ser baseada em uma análise criteriosa do perfil de risco e das expectativas de rentabilidade para cada segmento.
Além disso, a atenção ao comportamento do mercado de capitais e ao desempenho dos CRIs é fundamental para quem deseja aproveitar oportunidades em um cenário de juros elevados. Mesmo com as dificuldades enfrentadas pelo setor imobiliário, o mercado de capitais continua oferecendo alternativas de investimento que podem se mostrar rentáveis, especialmente em períodos de instabilidade econômica.
Considerações Finais
A decisão do COPOM de elevar a taxa Selic para 10,75% em 2024 traz desafios significativos para o mercado imobiliário. Os impactos variam de acordo com o segmento analisado, desde a desvalorização dos fundos imobiliários de tijolo até o aumento da rentabilidade dos fundos de papel.
Apesar das dificuldades, o mercado apresenta oportunidades para quem se mantiver atento às mudanças e souber diversificar seus investimentos. Com uma análise cuidadosa e estratégica, é possível aproveitar as vantagens oferecidas pelo mercado de capitais, mesmo em um cenário de juros elevados.
As expectativas para 2025 são de recuperação, caso o ciclo de alta dos juros seja curto. A combinação de um cenário macroeconômico mais favorável e uma gestão fiscal responsável pode trazer novos ares ao setor imobiliário, impulsionando o crescimento e a valorização dos ativos reais no longo prazo.